Antes de entrar nas minhas observações sobre seu trabalho, vale lembrar que para nós, católicos, a Bíblia não é a única fonte e regra de fé. Ela o é também, ao lado da Sagrada Tradição. Afinal, “Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que não caberiam no mundo os livros que seriam escritos” (Jo 21,25). Com este versículo, São João nos faz perceber que a mensagem evangélica não foi passada para o papel na sua totalidade. A própria Bíblia afirma que existiam duas maneiras de ensinar o povo: uma escrita e outra falada (cf. 2ª Ts 2,15). Sendo assim, de tudo o que foi pregado, uma parte foi escrita nas Páginas Sagradas e o que não foi escrito é chamado de Sagrada Tradição e “esta Tradição, que se origina dos apóstolos, progride na Igreja sob a assistência do Espírito Santo” (Concílio Vaticano I, Constituição Dogmática De Fide Catholica, 4). Por outro lado, a própria Bíblia nunca diz que ela é a única regra de fé, mas indica que a verdade plena está “na casa de Deus, que é a IGREJA do Deus vivo, COLUNA E SUSTENTÁCULO DA VERDADE” (1ª Tm 3,15). É a Igreja que contém a verdade total, pois se baseia em duas fontes de fé: a escrita e a de viva voz. Jesus nunca distribuiu Bíblia, mas Ele fundou uma Igreja e a esta Igreja deu autoridade de pregar em seu nome (cf. Lc 10,16).
“As afirmações dos santos Padres testemunham a presença vivificadora desta Tradição, cujas riquezas entram na prática e na vida da Igreja que acredita e ora. Esta mesma Tradição mostra à Igreja quais são exatamente todos os Livros Sagrados (o cânone da Bíblia) e faz compreender mais profundamente, na Igreja, esta mesma Sagrada Escritura e torna-a operante sem cessar. Assim Deus, que outrora falou, continua sempre a falar com a Esposa do seu amado Filho; e o Espírito Santo, pelo qual ressoa a voz viva do Evangelho na Igreja e, por ela, no mundo, introduz os crentes na verdade plena e faz que a palavra de Cristo neles habite em toda a sua riqueza (cf. Cl 3,16)” (Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Dei Verbum, 8).
Se a Bíblia fosse a única fonte de fé, apenas a sua leitura seria o suficiente para compreendermos toda a mensagem divina, mas não é isso que acontece. Lembre o caso do eunuco que não compreendia o que estava lendo na Bíblia e precisava de uma explicação oral, precisava do apoio da Tradição: “Filipe correu, ouviu o eunuco ler o profeta Isaías, e perguntou: ‘Você entende o que está lendo?’ O eunuco respondeu: ‘Como posso entender, se ninguém me explica?’” (At 8,30-31). É como disse Santo Agostinho, Doutor da Igreja: “Eu não creria no Evangelho, se a isto não me levasse a autoridade da Igreja Católica” (Catecismo da Igreja Católica, §119).
Tendo isso em mente, vamos à análise de alguns pontos interessantes do seu trabalho: |
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