sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

8 - BEM-AVENTURADA

Por Carlos J. Magliano Neto

 “Na própria Bíblia, houve um caso notável de alguém que acreditou ser Maria superior a todas as outras mulheres. O equívoco não foi adiante, porque o comentário foi feito ao próprio Jesus, que imediatamente colocou as coisas em seus devidos lugares. ‘E aconteceu que dizendo ele estas coisas, uma mulher entre a multidão, levantando a voz, lhe disse: ‘Bem aventurado o ventre que te trouxe e o peito em que mamaste’. Mas ele disse: ‘Antes, bem aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a guardam’ (Lc 11:27,28)”                            (pág. 17)                                                                         

Pareceu-me uma contradição: primeiramente o senhor diz que “Bem aventurada” não é um título extraordinário e que este termo não “faria Maria maior que outra pessoa” (pág. 16). Entretanto, no comentário sobre o episódio de Lc 11,27-28, assim está:


“Uma mulher dentre a multidão que ali estava, impõe sua voz, enaltecendo Maria acima das expectativas de Jesus e das pretensões bíblicas”                                           (pág. 17)

Como assim “acima das expectativas” se a mulher apenas disse: “Bem aventurado”? Por que é que o senhor interpreta o mesmo termo “bem-aventurado(a)” com dois sentidos tão diferentes? Com uma interpretação para cada ocasião?

Mas isso não é o principal. Vamos ao conhecimento da Igreja sobre essa perícope: “Ora, tal motivo de exaltação (que Jesus fez) se aplica eminentemente a Maria Santíssima, que, sem dúvida, recebeu a graça de se tornar Mãe do Verbo encarnado, porque primeiramente se mostrou em tudo fiel serva do Senhor; diz Santo Agostinho: ‘Mais feliz é Maria por ter vivido inteiramente a fé do Messias do que por ter concebido a carne do Messias’(Ed. Migne Lat. 40,398). À Luz deste princípio, entendam-se as palavras de Jesus: o Senhor quer erguer a estima a Maria sobre o aspecto mais digno e rico que a Mãe de Deus possa apresentar à consideração dos cristãos” (D. Estevão Bettencourt, OSB, Curso sobre parábolas e páginas difíceis dos Evangelhos, mód.10 pág.182). Jesus reponde que a verdadeira felicidade consiste em ouvir a Palavra de Deus e observá-la. Logicamente não excluiu sua Mãe, mas mostra que a verdadeira superioridade dela está no fato de ter sido uma mulher de fé: “Bem aventurada aquela que acreditou” (Lc 1,45); “E sua mãe conservava no coração todas essas coisas” (Lc 2,51).

A honra à Maria deve ser dada primeiramente por causa de sua fé e depois por causa da gestação divina. Afinal, ela só ficou grávida do Senhor porque acreditou. Quando a Igreja nos põe Maria como exemplo a ser imitado, claro que não é o exemplo de ser Mãe do Filho de Deus que deveremos imitar (pois isso nos será impossível!), mas é o exemplo da fé, da confiança em Deus que a jovem Maria tinha. E é isso que o Senhor quer demonstrar.  Perceba que Ele não disse que Maria não era bem-aventurada, mas disse que antes, bem-aventurados são os que ouvem a Palavra de Deus e a guardam. Maria é bem aventurada duas vezes: primeiro porque acreditou (cf. Lc 1,45), segundo porque deu à luz o Filho de Deus (cf. Lc 11,27).

“O nó da desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria; o que a virgem Eva ligou pela incredulidade a virgem Maria desligou pela fé” (Santo Irineu, Catecismo da Igreja Católica, § 494).

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